Nos palcos convencionais, com ambientação escura, a iluminação possui responsabilidades adicionais, pois ela determinará não apenas a visibilidade da cena, mas também o modo pelo qual a cena será vista, já que:
Uma das maiores diferenças entre o teatro e o cinema é que, no cinema, existe uma enorme peça tecnológica entre o ator e a audiência: a câmera. A câmera direciona nossa visão em cada cena; ela nos fala quando, onde, e como fechar o nosso olhar. Não é de surpreender, que a pessoa que decide onde a câmera poderá ir é chamado de “diretor” (CAMPBELL, 1998, p. 70)[1].
Ainda dentro dessa perspectiva pode-se afirmar que a iluminação determina o olhar do público. A cena iluminada, geralmente, é transformada em foco da ação[2] e atenção e, juntamente com outros elementos da cena, nas condições de seu desenvolvimento. Quando uma determinada luz se acende em determinado lugar dentro do espaço cênico, o olhar imediatamente é “levado” a destacar esse “lugar” como o mais importante naquele determinado momento, pois:
Antes de começar o espetáculo, o palco é um espaço neutro, sem vida. Porém, quando as luzes se acendem sobre ele, tudo se põe a vibrar. Em pouco tempo, o espectador se sentirá à beira de uma estrada, numa encenação de “Esperando Godot”, de Beckett; na cidadezinha de Gullen, em “A Visita da Velha Senhora”, de Durrenmatt; nas escadarias da igreja de Santa Bárbara, em “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes; na sala do Dr. Stockman, em “Um Inimigo do Povo”, de Ibsen; nas escadarias do Senado, em “Júlio César", de Shakespeare; ou numa daquelas paisagens invisíveis de Thornon Wilder. O espaço antes vazio, neutro, passa a existir, adquire uma caracterização, um significado (CAMARGO, 2000, p. 80)[3].
Mas, de que maneira o desenho de iluminação pode direcionar a atenção do público, ou melhor, quais técnicas de “domínio” da visão do espectador e de expressão poética os designers de iluminação utilizam em seus projetos?
Segundo Pibrow (1979)[4], existem quatro princípios básicos da iluminação de palco, que, se mantidos na mente do designer, podem auxiliá-lo em cada momento, assim como funcionar como uma lista de checagem e de avaliação de todo o trabalho. São eles:
Visibilidade Seletiva: É o primeiro e o mais importante princípio. O que habilita todo espectador a ver tudo claramente, tanto atores, como elementos de cena, independente de sua posição na platéia, sem ofuscamento, raro algumas exceções onde a luz propicia o ocultamento da cena por questões de expressão dramática. Além disso, as formas e quantidades da luz na cena também determinam a importância do que está sendo mostrado. Seguindo o ponto de vista do autor, a luz guia o olhar do público através da utilização do brilho. Uma luz ou objeto mais brilhante atrairá maior atenção, aumentando a importância do que está sendo mostrado.
Revelação da Forma: A iluminação geral quando sozinha produz visibilidade da cena, porém os elementos tornam-se desinteressantes. Para se conseguir a tridimensionalidade dos elementos de cena, a luz deve revelá-los através de graduações das áreas de sombra, penumbra e claridade.
Composição: Além de possibilitar a visão do espaço cênico e de seus elementos, a iluminação também realiza a “pintura” da cena, cria efeitos visuais, “materializa” a plasticidade na cena, interagindo dinamicamente com atores, objetos, cenografia, etc.
Modo (clima): Para o autor, o clima pode ser o resultado conseguido quando se tem sucesso na determinação dos três princípios anteriores. De acordo com Pibrow (1979, p. 14), o designer utiliza intensidade, cor, distribuição e movimento, podendo explorar os inerentes efeitos psicológicos e emocionais da luz na criação apropriada de efeitos dramáticos, no sentido de facilitar o correto entendimento da peça.
Nessa mesma linha de pensamento, Willians (2003)[5], apresenta como objetivos da iluminação de palco:
1) Visibilidade: é freqüentemente considerada como a mais básica e fundamental função da iluminação de palco. O que nós não vemos, raramente entendemos claramente. A visibilidade depende tanto da distância quanto da intensidade da luz. Outros fatores, tais como: contraste, dimensão, cor e movimento, todos podem influenciar a visibilidade. Distância, idade, e as condições dos olhos também têm um importante papel na visibilidade.
2) Naturalismo (e motivação): provê o senso de tempo e lugares. Configurações do palco podem ser altamente realistas, completamente abstratas, absurdas ou estilizadas. Se a hora do dia é importante ou o lugar é realista, então a motivação é freqüentemente suprida pela luz do sol, luz da lua, luz do fogo, luz das lâmpadas ou outras fontes naturalistas no palco. Concepções de estilo incluem: naturalista, antinaturalista, realista, surrealista, pontilista, futurista, minimalista, impressionista, expressionista, expansionista, abstrato, moderno, religioso, romântico, vitoriano, primitivo, gótico, elisabetano, georgiano, e muitos, muitos mais.
3) Composição: refere-se a todos os aspectos pictóricos do palco que são influenciados pela iluminação. A composição também joga com a forma dos objetos. A cena de palco pode ser amplamente diluída com uma luz difusa, que revela cada objeto igualmente, ou pode ser iluminada por um foco apenas nos atores – ou alguma coisa entre eles. Então, a composição na iluminação revela apenas os atores, objetos, e cenários na proporção da sua importância construindo uma pintura visual. O conceito de composição inclui: equilíbrio, desequilíbrio, simetria e assimetria, simplicidade e complexidade, abstração e geometria, fragmentação, simbologia, dinamismo, linearidade e fractalidade, rudimentaridade, horizontalidade, verticalidade, diagonalidade e muitos mais.
4) Modo (ou clima): é considerada a reação básica psicológica do público. Se outros elementos de iluminação têm sido particularmente aplicados, o resultado é um modo específico criado pelo designer de iluminação. A iluminação pode causar no público uma ampla variação de diferentes emoções. Sentimentos de felicidade, tristeza, contentamento, horror, excitação, (freqüentemente tédio), tudo depende de um amplo número de fatores psicológicos. Isso também é verdade no que diz respeito a como o público interpreta os modos naturalistas ou de climas, tal como um dia ensolarado, nublado, chuvoso, brilhante etc. O designer de iluminação de palco rapidamente aprendeu isso: “As coisas não são o que elas são, as coisas são o que elas parecem ser” (citação do autor).
Reforçando essas idéias gerais da luz como componente plástico-poético nas cenas, pode-se observar que:
A luz muda a aparência das coisas. Uma paisagem vista num dia ensolarado pode parecer brilhante, cheia de contrastes fortes e tonalidades diferentes. Porém, vista num dia nublado, perde estas características, tornando-se monótona e sombria. O mesmo se dá com a luz artificial nos ambientes internos e externos. Conforme o tipo de lâmpada, posição da luminária e quantidade de luz, o ambiente torna-se frio, quente, aconchegante ou impessoal.
Além de modificar a aparência física das coisas e dos ambientes que ilumina, a luz tem também o poder de agir sobre as pessoas, alterando seu estado de espírito, seu humor, através das impressões psicológicas que causa (CAMARGO, 2000, p. 61)[6].
Uma das maiores diferenças entre o teatro e o cinema é que, no cinema, existe uma enorme peça tecnológica entre o ator e a audiência: a câmera. A câmera direciona nossa visão em cada cena; ela nos fala quando, onde, e como fechar o nosso olhar. Não é de surpreender, que a pessoa que decide onde a câmera poderá ir é chamado de “diretor” (CAMPBELL, 1998, p. 70)[1].
Ainda dentro dessa perspectiva pode-se afirmar que a iluminação determina o olhar do público. A cena iluminada, geralmente, é transformada em foco da ação[2] e atenção e, juntamente com outros elementos da cena, nas condições de seu desenvolvimento. Quando uma determinada luz se acende em determinado lugar dentro do espaço cênico, o olhar imediatamente é “levado” a destacar esse “lugar” como o mais importante naquele determinado momento, pois:
Antes de começar o espetáculo, o palco é um espaço neutro, sem vida. Porém, quando as luzes se acendem sobre ele, tudo se põe a vibrar. Em pouco tempo, o espectador se sentirá à beira de uma estrada, numa encenação de “Esperando Godot”, de Beckett; na cidadezinha de Gullen, em “A Visita da Velha Senhora”, de Durrenmatt; nas escadarias da igreja de Santa Bárbara, em “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes; na sala do Dr. Stockman, em “Um Inimigo do Povo”, de Ibsen; nas escadarias do Senado, em “Júlio César", de Shakespeare; ou numa daquelas paisagens invisíveis de Thornon Wilder. O espaço antes vazio, neutro, passa a existir, adquire uma caracterização, um significado (CAMARGO, 2000, p. 80)[3].
Mas, de que maneira o desenho de iluminação pode direcionar a atenção do público, ou melhor, quais técnicas de “domínio” da visão do espectador e de expressão poética os designers de iluminação utilizam em seus projetos?
Segundo Pibrow (1979)[4], existem quatro princípios básicos da iluminação de palco, que, se mantidos na mente do designer, podem auxiliá-lo em cada momento, assim como funcionar como uma lista de checagem e de avaliação de todo o trabalho. São eles:
Visibilidade Seletiva: É o primeiro e o mais importante princípio. O que habilita todo espectador a ver tudo claramente, tanto atores, como elementos de cena, independente de sua posição na platéia, sem ofuscamento, raro algumas exceções onde a luz propicia o ocultamento da cena por questões de expressão dramática. Além disso, as formas e quantidades da luz na cena também determinam a importância do que está sendo mostrado. Seguindo o ponto de vista do autor, a luz guia o olhar do público através da utilização do brilho. Uma luz ou objeto mais brilhante atrairá maior atenção, aumentando a importância do que está sendo mostrado.
Revelação da Forma: A iluminação geral quando sozinha produz visibilidade da cena, porém os elementos tornam-se desinteressantes. Para se conseguir a tridimensionalidade dos elementos de cena, a luz deve revelá-los através de graduações das áreas de sombra, penumbra e claridade.
Composição: Além de possibilitar a visão do espaço cênico e de seus elementos, a iluminação também realiza a “pintura” da cena, cria efeitos visuais, “materializa” a plasticidade na cena, interagindo dinamicamente com atores, objetos, cenografia, etc.
Modo (clima): Para o autor, o clima pode ser o resultado conseguido quando se tem sucesso na determinação dos três princípios anteriores. De acordo com Pibrow (1979, p. 14), o designer utiliza intensidade, cor, distribuição e movimento, podendo explorar os inerentes efeitos psicológicos e emocionais da luz na criação apropriada de efeitos dramáticos, no sentido de facilitar o correto entendimento da peça.
Nessa mesma linha de pensamento, Willians (2003)[5], apresenta como objetivos da iluminação de palco:
1) Visibilidade: é freqüentemente considerada como a mais básica e fundamental função da iluminação de palco. O que nós não vemos, raramente entendemos claramente. A visibilidade depende tanto da distância quanto da intensidade da luz. Outros fatores, tais como: contraste, dimensão, cor e movimento, todos podem influenciar a visibilidade. Distância, idade, e as condições dos olhos também têm um importante papel na visibilidade.
2) Naturalismo (e motivação): provê o senso de tempo e lugares. Configurações do palco podem ser altamente realistas, completamente abstratas, absurdas ou estilizadas. Se a hora do dia é importante ou o lugar é realista, então a motivação é freqüentemente suprida pela luz do sol, luz da lua, luz do fogo, luz das lâmpadas ou outras fontes naturalistas no palco. Concepções de estilo incluem: naturalista, antinaturalista, realista, surrealista, pontilista, futurista, minimalista, impressionista, expressionista, expansionista, abstrato, moderno, religioso, romântico, vitoriano, primitivo, gótico, elisabetano, georgiano, e muitos, muitos mais.
3) Composição: refere-se a todos os aspectos pictóricos do palco que são influenciados pela iluminação. A composição também joga com a forma dos objetos. A cena de palco pode ser amplamente diluída com uma luz difusa, que revela cada objeto igualmente, ou pode ser iluminada por um foco apenas nos atores – ou alguma coisa entre eles. Então, a composição na iluminação revela apenas os atores, objetos, e cenários na proporção da sua importância construindo uma pintura visual. O conceito de composição inclui: equilíbrio, desequilíbrio, simetria e assimetria, simplicidade e complexidade, abstração e geometria, fragmentação, simbologia, dinamismo, linearidade e fractalidade, rudimentaridade, horizontalidade, verticalidade, diagonalidade e muitos mais.
4) Modo (ou clima): é considerada a reação básica psicológica do público. Se outros elementos de iluminação têm sido particularmente aplicados, o resultado é um modo específico criado pelo designer de iluminação. A iluminação pode causar no público uma ampla variação de diferentes emoções. Sentimentos de felicidade, tristeza, contentamento, horror, excitação, (freqüentemente tédio), tudo depende de um amplo número de fatores psicológicos. Isso também é verdade no que diz respeito a como o público interpreta os modos naturalistas ou de climas, tal como um dia ensolarado, nublado, chuvoso, brilhante etc. O designer de iluminação de palco rapidamente aprendeu isso: “As coisas não são o que elas são, as coisas são o que elas parecem ser” (citação do autor).
Reforçando essas idéias gerais da luz como componente plástico-poético nas cenas, pode-se observar que:
A luz muda a aparência das coisas. Uma paisagem vista num dia ensolarado pode parecer brilhante, cheia de contrastes fortes e tonalidades diferentes. Porém, vista num dia nublado, perde estas características, tornando-se monótona e sombria. O mesmo se dá com a luz artificial nos ambientes internos e externos. Conforme o tipo de lâmpada, posição da luminária e quantidade de luz, o ambiente torna-se frio, quente, aconchegante ou impessoal.
Além de modificar a aparência física das coisas e dos ambientes que ilumina, a luz tem também o poder de agir sobre as pessoas, alterando seu estado de espírito, seu humor, através das impressões psicológicas que causa (CAMARGO, 2000, p. 61)[6].
[1] CAMPBELL, D. Technical Theater for Nontechnical People. New York: Allworth Press, 1998. p. 70 – tradução livre do inglês.
[2] É notório que cenas que aconteçam na escuridão também possam estimular sensações e emoções, porém, o que se pretende propor aqui é a maior influência das cenas iluminadas no direcionamento do olhar do espectador.
[3] CAMARGO, R. G. Função Estética da Luz. Sorocaba: TCM Comunicação, 2000. p. 80.
[4] PIBROW, R. Stage Lighting. London: A Studio Vista Book published by Cassel Ltd, 1979. p. 14 – tradução livre do inglês.
[5] WILLIAN, Bill. Stage Lighting Design 101. Disponível em:
http://www.mst.net/~william5/sld-100.htm . Acesso em 15 de março de 2003. tradução livre.
[6] CAMARGO, R. G. Função Estética da Luz. Sorocaba: TCM Comunicação, 2000. p. 61.
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