15 novembro 2007

Iluminação de palco – conhecer e sentir


A iluminação de palco, como qualquer outra manifestação artística, necessita de sua materialização, de sua extrinsecação em nosso universo material para tornar-se verdadeiramente arte sentida, explorada pelos sentidos e pelas emoções humanas.
Ao pensar a iluminação apenas como arte de suporte para a manifestação de uma arte mais “completa”, que seria a própria manifestação do espetáculo teatral, lírico, musical, de dança etc., como um todo, ter-se-ia que pensar o mesmo das outras artes que a integram, como a arte da interpretação teatral, da interpretação coreográfica, da interpretação musical tocada e cantada, da cenografia etc. Em vez disso, pode-se pensar na iluminação como materialização de sentidos e sentimentos e nessa condição, apreende-se que:
(...) o ato artístico é todo extrinsecação. E o corpo da obra de arte é toda a realidade dela. A pintura não é nada diverso de uma superfície colorida, a estátua nada diverso do bronze fundido, a poesia nada diverso de uma série de palavras, a música nada diverso de uma sucessão rítmica de sons e a dança nada diversa de corpos em movimento. O corpo físico da obra de arte não é um instrumento mais ou menos necessário para comunicar uma imagem interior, e nem ao menos é o indispensável aspecto externo de uma realidade interna que, mais profunda e escondida, viva dentro dele e dentro dele se deva colher e penetrar, ou necessária manifestação física de uma realidade superior ou ulterior que se patenteie através dele e para ele aluda além de si. Ele basta a si mesmo e constitui a totalidade da arte (PAREYSON, 1989, p. 119)[1].

A moderna iluminação de palco “é desenvolvida no sentido do entendimento de como a luz ilumina o mundo real a nossa volta (...)”. “No entanto, desenhistas de iluminação precisam saber claramente o que eles vêem no mundo real e como as luzes trabalham” (FRASER, 1999, p. 13)[2]. A compreensão sensível e de expressividade por parte do espectador no universo criado pelas cenas nos palcos passa, primeiramente, pela necessidade de compreensão visual, física mesmo, entendida em seus aspectos formais, para, posteriormente, afetar os outros caminhos de entendimento, como na pintura, que exige, primeiramente, a contemplação de suas formas objetivas, materiais para, posteriormente, a introspecção e, conseqüentemente, a reação intuitiva e intelectual subjetiva do observador, pois:

Dizer que na obra de arte o corpo é tudo não significa negar-lhe a espiritualidade, mas apenas afirmar que esta espiritualidade deve ser vista no seu mesmo aspecto físico. Todas as tentativas de unificar ou mediar a espiritualidade e a fisicidade da obra de arte, deixando-as distintas, conservam aberta a possibilidade de separá-las, e, por isso, a alternativa de negar uma em favor da outra, isto é, de volatilizar a arte no capricho ou enrijecê-la na técnica. Considerar a obra de arte como tal significa, pelo contrário, tê-la diante de si como uma coisa, e, ao mesmo tempo, nela saber ver um mundo; fazer falar com sentidos espirituais o seu próprio aspecto sensível; não tanto buscar o significado de sua realidade física como, antes, saber considerar esta mesma realidade física como significado: já que nesta não se trata de distinguir interno e externo, alma espiritual e corpo físico, pura imagem e intermediário sensível, realidade oculta e invólucro exterior, mas de encontrar a coincidência de espiritualidade e fisicidade (PAREYSON, 1989, p. 120-121)[3].

[1] PAREYSON, L. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 119.


[2] FRASER, N. Stage Lighting Design. Trafalgar Square Publishing, 1999. p. 13 – tradução livre do inglês.


[3] PAREYSON, L. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes, 1989. p. 120 – 121.

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