15 novembro 2007

A arte e o fazer mecânico


Quando se pensa na iluminação de palco como arte, obrigatoriamente, se pensa nos designers de iluminação como artistas. Para isso, se faz necessário, em primeiro lugar, uma certa separação do que seja arte e não-arte, ou do que seria um artista e um não-artista em sua área de atuação.
Segundo Pareyson (1989)[1], existem três definições tradicionais de arte:

As definições mais conhecidas de arte, recorrentes na história do pensamento, podem ser reduzidas a três: ora a arte é concebida como um fazer, ora como um conhecer, ora como um exprimir. Essas diversas concepções ora se contrapõe e se excluem umas às outras, ora, pelo contrário, aliam-se e se combinam de várias maneiras. Mas permanecem, em definitivo, as três principais definições de arte (PAREYSON, 1989, p. 29).

Tendo a iluminação de palco características próximas às das artes pictóricas, por suas relações com as formas, as cores, as luzes e as sombras, deve-se, então, observar que os artistas que, através delas se exprimem, utilizam esses recursos para suas expressividades. Pode-se ter um exemplo da utilização desses recursos e do modo como os profissionais criativos do teatro ou mesmo das artes plásticas interpretam as funções da luz nas obras de arte pictóricas de artistas consagrados. É o caso, por exemplo, de Ratto (2001), quando observa, na obra “Os discípulos de Emaús”, do mestre Rembrant, nuances de iluminação e o deslocamento dessas nuances para os palcos, e intui que:

Nesta obra é fácil constatar que a luz se origina da auréola que envolve a cabeça de Cristo, criando uma atmosfera de luminescência dourada e invadindo equilibradamente todos os espaços, dando inclusive evidência ao próprio Cristo. A escuridão do grande nicho que praticamente contém as quatro figuras ressalta, evidenciando-o, o convívio com o Mestre. No caso de quere realizar no palco uma iluminação desse gênero, deveremos usar independentemente dos aparelhos complementares, uma fonte de luz que, estando atrás da figura central, não invada a região obscura do nicho (RATTO, 2001, p. 97)[2].


[1] PAREYSON, L. Os Problemas da Estética. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1989. p. 29


[2] RATTO, Gianni Antitratado de Cenografia. São Paulo: Editora SENAC, 2001. p. 97.

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