A arquitetura do olhar
Discussões sobre a teoria Gestalt
É quase consenso absoluto entre os cientistas, intelectuais,
filósofos e artistas da atualidade, a inegável contribuição da
teoria relativística1
de Albert Einstein, cujas premissas, alargaram a visão de
praticamente todas as áreas do conhecimento. Porém, muitos dos
conceitos da teoria foram e são utilizados para pregar uma espécie
de relativismo cego, cujo fundamentalismo infiltra-se
inescrupulosamente em todos os ramos do saber.
A ideia aceita por alguns de que o relativismo seja a chave última
para a explicação de processos sofisticados externos e internos ao
homem, não tem características religiosas, mas acabou se tornando
uma crença equivocada, como tantas outras, na infalibilidade de algo
que sempre está evoluindo, como a ciência. Mais ainda, trata-se de
uma falha no reconhecimento de que algumas das premissas contidas
tanto na teoria restrita como na teoria geral, não podem
simplesmente ser aplicadas a determinadas situações e processos,
alguns desses, inclusive, gerados por determinados princípios
imutáveis dentro de seus respectivos universos físicos e
conceptuais, ou seja, nem tudo é relativo em nosso universo exterior
e interior.
Alguns desses princípios tratam, por exemplo, das limitações do
sistema fisiológico humano, tais como os da audição e visão, os
quais conseguem captar somente algumas faixas eletromagnéticas, nos
proporcionando apenas contatos com algumas das realidades vibratórias
que nos cercam. Outras não nos são acessíveis, como é o caso das
micro-ondas, dos raios X, de sons que estão acima e abaixo da escala
dos decibéis influenciadores do nosso sistema auditivo, e por aí
vai.
De certa forma estamos fisiologicamente condenados e aprisionados
dentro de determinados limites do ver, sentir, cheirar, ouvir,
degustar, tocar, etc, condicionados biologicamente a contatar apenas
uma restrita faixa da realidade total, não nos sendo permitido, pelo
menos para a maioria de nós, vivenciar sensivelmente essas outras
dimensões da existência universal.
Seria um absurdo, portanto, querer transferir para esses processos o
mesmo sistema relativístico que explica, por exemplo, a diferença
da massa e do fator tempo, observados durante uma experiência de
bombardeios de partículas no interior de um acelerador como o LHC2,
cuja velocidade pode chegar próximo à da luz. Nesse caso, a teoria
explicaria e até mesmo poderia descobrir antecipadamente quais
seriam os eventos futuros. Afirmar que eu ou você não enxergamos as
cores de determinada frequência apenas por que não estamos
dispostos a enxergá-las, seria um absurdo teórico. Não existe
relatividade nisso; a relatividade aí se apresenta apenas enquanto
“modo” de ver, ouvir, enfim, sentir, e não no fato biológico,
da estrutura natural à disposição.
Algumas coisas não são relativas: são partes de processos e de
leis naturais rígidas. Talvez, daqui a não sei quanto tempo, ao
atingirmos outro estado de arte de nossa ciência, poderemos mudar a
nossa cadeia genética a bel prazer, com o intuito de enxergar além
e aquém da escala vibratória normal, mas isso é outra história.
Mesmo assim, isso não seria algo natural, mas artificial.
Essa pequena introdução ao problema do relativismo e de suas
abrangentes implicações e limites, visa apenas demonstrar que
precisamos estar cientes de que enxergamos, ouvimos, ou seja,
sentimos o mundo à nossa volta com “equipamentos” biológicos
restritivos. Que , em função do modo como foram organizados
biologicamente no decorrer das eras, hoje nos proporcionam captar o
pulsar universal de determinadas formas, e não de outras. Mas não é
só isso!
A característica fisiológica do cérebro humano com seus
aproximadamente 100 bilhões de neurônios, suas ligações
sinápticas e suas fibras protoplasmáticas, estão sistematicamente
ordenados de tal forma que é impossível não atentar para o fato de
que a própria estrutura formal, o próprio modelo arquitetônico do
sistema nervoso seja responsável não somente pela “maneira”
como se dão as trocas de comunicação e, portanto, da fenomenologia
das atividades fisiológicas internas, mas também pelos padrões que
esses comportamentos infligem à nossa maneira de organizar e
reciclar o que captamos do mundo externo. Ou seja, nosso organismo
tende a seguir certos padrões internos de comportamento pelo fato de
ter evoluído através de processos que acabaram impulsionando nosso
aparelho biológico para determinado caminho evolutivo. Seguindo essa
linha de pensamento, Dondis afirma:
“...captamos a informação visual de muitas maneiras. As forças
perceptivas e cinestésicas da natureza fisiológica são vitais para
o processo visual. Nossa maneira de permanecer em pé, de nos
movermos, assim como de reagir à luz, à escuridão ou aos
movimentos bruscos são fatores importantes para o nosso modo de
perceber e interpretar mensagens visuais. Todas essas respostas são
naturais e atuam sem esforços; não temos de estudá-las e nem
aprender a dá-las”.3
Não há dúvida de que a psicanálise4
de Sigmund Freud5
seja talvez uma das obras mais geniais de todos os tempos, mas, como
qualquer ramo do conhecimento, não poderia de uma só vez trazer à
tona toda a verdade de algo tão complexo como a mente humana. Muitas
outras teorias vieram em seguida refutar ou completar alguns de seus
princípios, mas nunca se havia adentrado tão profundamente na
fenomenologia da percepção humana como fizeram os precursores da
Gestalt.
A escola de psicologia experimental Gestalt, também conhecida por
Psicologia da Forma, surgiu na Europa em fins do século XIX.
Segundo João Gomes Filho,
“Considera-se que Christian von Ehrenfels, filósofo austríaco
do século XIX, foi o precursor da psicologia Gestalt. Mais tarde,
por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio de três
nomes principais: Max Wertheimer (1880/1943), Wolfgang Kohler
(1887/1967) e Kurt Kofka (1886/1941), da universidade de Frankfurt.
O movimento gestaltista atuou principalmente no campo da teoria da
forma, com contribuição relevante aos estudos da percepção,
linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motivação,
conduta exploratória e dinâmica de grupos sociais. Por meio de
numerosos estudos e pesquisas experimentais, os gestaltistas
formularam suas teorias acerca dos campos mencionados. A teoria da
Gestalt, extraída de uma rigorosa experimentação, vai sugerir uma
resposta ao porquê de muitas formas agradarem mais e outras não.
Essa maneira de abordar o assunto vem opor-se ao subjetivismo, pois a
psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso, quando
procura explicar a relação sujeito-objeto no campo da percepção”.
6
A Gestalt ainda identificou que os processos mentais de associação
não acontecem pontualmente, isoladamente, mas a excitação cerebral
é abrangente; nada será desencadeado posteriormente ao que foi
sentido. Quando observamos um objeto qualquer, o nosso órgão da
visão trabalha na captação do todo. Não vemos coisas isoladas.
Por exemplo, quando olhamos para uma cadeira, não identificamos
primeiramente o acento, depois as pernas, depois o encosto e os
braços. Nossa percepção visual é globalizadora. Isso nos permite
saber que o objeto que observamos, seja ele da madeira, metal ou
plástico; esteja ele de pé, de costas ou de cabeça para cima, é
uma cadeira.
Ao identificarmos as coisas sem separar as partes que a compõem,
estamos automaticamente atribuindo valores diferentes quanto ao todo
e os seus componentes em separado. Sendo assim, podemos então
afirmar que o todo sempre será mais do que apenas o conjunto de suas
partes. Seu valor enquanto unidade é totalmente diferente quando
visto e percebido separadamente Isso também explica porque somos
enganados por aquilo que denominamos de “ilusão de ótica”.
Algumas imagens enganam o nosso olhar, exatamente porque o nosso
sistema visual e perceptivo sempre fará com que, para nós, o todo
seja mais “importante” do que os seus componentes. O todo se
transformará em algo único tendo apenas uma relação formal
estrutural com suas partes componentes, mas não conceptual. Na
figura 01, as linhas horizontais divisórias são paralelas entre si,
e os paralelogramos pretos e brancos possuem todos a mesma dimensão
e tamanho.
Ao observarmos a imagem, somos levados a ver figuras linhas não
paralelas se aproximando ou se afastando nas extremidades opostas e
paralelogramos assimétricos e de diferentes tamanhos.
Figura 01
Mas não é apenas enquanto percepção da forma que a teoria Gestal
comprova com nitidez suas assertivas. Em relação ainda aos
processos de percepção visual, somos levados por essa escola a
entender que fenômenos - como o fator de fechamento - estão
estritamente ligados à estrutura do sistema ótico e seus
componentes, assim como pelo que denominam “forças internas de
organização”. O fator de fechamento é aquele que nos
possibilita perceber perfeitamente as formas, mesmo complexas,
somente ligando pontos ou linhas tracejadas como a mostrada na figura
02.
Figura 02
A teoria Gestalt analisa também as forças que regem a percepção
do objeto visual. Essas forças foram divididas pelos gestaltistas em
“internas” e “externas”. As forças externas são fruto da
estimulação da retina pela luz. Descobriram então que a percepção
é influenciada diretamente pelas condições de iluminação. Já as
forças internas são aquelas responsáveis pela organização que
determina como estruturamos o que vemos, e isso se explicaria pela
própria natureza estrutural do cérebro físico.
A teoria Gestalt ainda, através do conjunto dos resultados de
inúmeros experimentos e experiências, acabou por revelar alguns
princípios internos de organização. O que são eles? São algumas
constantes das forças internas, ou seja, constantes de ordenação e
estruturação pelos quais se baseiam os processos da percepção. Os
gestaltistas também as denominam de padrões, fatores ou leis de
organização da forma perceptual. Esses princípios explicariam por
que vemos da maneira como vemos. Os quatro princípios básicos são:
o da tendência à estruturação, o da segregação figura-fundo, o
da pragnância das formas e o da constância perceptiva.
O princípio de tendência à estruturação é aquele que afirma que
sempre buscamos agrupar elementos próximos ou de características
semelhantes. O da segregação figura-fundo determina que não
podemos ver objetos se não pudermos separá-los da figura de fundo.
Que sem o contraste eles não são percebidos. O princípio da
pragnância afirma que percebemos mais facilmente formas mais
simétricas, regulares, em equilíbrio, e também as formas simples.
Além desses princípios, poderíamos ainda somar mais duas
constantes denominadas “constantes primárias”, que são as de
unificação e segregação, sendo que
“As forças de unificação agem em virtude da igualdade da
estimulação. As forças de segregação agem em virtude da
desigualdade de estimulação”. (FILHO 2009)7
Quando pensamos em unidades, temos que pensar obrigatoriamente em
termos de contraste. Uma unidade só é possível ser reconhecida
quando separada do plano de fundo ou de conjuntos de unidades.
Percebemos, portanto, através das relações entre os diferentes
elementos contidos no nosso campo visual, que quando algum elemento
estabelecido num determinado conjunto de formas é mudado, toda a
percepção desse conjunto é alterada. Tanto a percepção da forma
quanto da cor segue essa lei. Claro que as resultantes serão
diferentes para cada caso específico. Na figura 03, podemos observar
claramente que tanto as relações formais são afetadas quanto a
percepção da cor do elemento contrastante. O quadrado cinza central
parecerá mais escuro sobre um fundo claro, e mais claro num fundo
escuro, embora sejam os dois da mesma cor.
Figura 03
A percepção da cor também foi incansavelmente experimentada e
analisada pelos gestaltistas. Fenômenos como o da constância das
cores e o da cor negativa são alguns exemplos. Através dessa última
comprovou-se indubitavelmente que a estrutura biológica humana busca
sempre o equilíbrio das forças, no caso, o equilíbrio de
funcionamento dos fotorreceptores. O fenômeno da cor negativa se dá
quando determinados fotorreceptores de uma cor são fatigados durante
um determinado período e acabam perdendo a habilidade de enviar
informações corretas ao cérebro. Após fatigarmos um conjunto de
nossos fotorreceptores com determinada cor, ao olharmos uma
superfície branca, notaremos o aparecimento de sua cor complementar.
Após o descanso desses fotorreceptores, a sensibilidade do sistema
volta ao normal. O leitor poderá observar em si mesmo esse efeito
com a seguinte experiência:
Olhar fixamente para o centro da figura 04 durante no mínimo 45
segundos. Após isso, olhar imediatamente para uma folha de papel em
branco. O que se verá, é a mesma imagem, porém, com as cores
complementares das que foram observadas anteriormente. Essa
experiência prova não somente a teoria Gestalt sobre a busca de
autorregulação do organismo, como também que os cones8,
mais abrangentemente nossos órgãos da visão, evoluíram a partir
da incidência da luz. Nosso cérebro foi capaz de evoluir seguindo a
orientação do sistema aditivo de cores.
Figura 04
O termo Gestalt, cuja tradução pode ser figura, objeto ou forma é
bastante amplo e contém muitos significados. O mais importante é o
que remete ao “todo” como resultado da integração de seus
componentes e não simplesmente como resultado da soma desses. O
termo também vulgarizou-se como “boa forma” dentro das
atividades do design.
A Gestalt também afirma que o os elementos que vemos são
organizados naturalmente por nosso sistema perceptual de forma a
fazer sentido e não serem percebidos apenas, como outras linhas de
psicologia afirmavam: através de associações.
Ao nos depararmos com os fundamentos da teoria Gestalt,
aproximamo-nos mais e mais do entendimento de como podemos realizar a
comunicação visual em nossos projetos, de forma a seguirmos o
caminho natural da percepção. Todo artista e projetista procura
executar seu trabalho para ser entendido e compreendido, porém,
ocorre muitas vezes que o universo formal da sua obra não atinge a
percepção do observador de maneira efetiva, pois não foi levado em
consideração exatamente o modo como o observador “lê”
visualmente a obra.
Os designers, em geral, incluindo os de iluminação, precisam
compreender, por exemplo, que enfileirar luminárias e focos de
luzes, que são na verdade elementos visuais, não é apenas
atividade estética, mas de comunicação e linguagem. Dentro de
determinado universo formal, isso “significa” alguma coisa que
necessariamente não é algo apenas sensível. Por que muitos
designers colocam aquelas fileiras de nesgas de luzes verticais nas
paredes dos espaços arquitetônicos? Porque é receita ou é
linguagem? Se for linguagem, o que podemos representar visualmente no
espaço através desse conceito formal? Será que estamos dizendo que
ali existe uma continuidade no espaço? Poderíamos, por exemplo,
usar recursos como esses para, usando as propriedades da luz,
“escrever” mensagens visuais?
Eu acredito que isso seja possível e que o designer deve compor seus
projetos não apenas como arte, como linguagem estética, mas
procurar construir sistemas de comunicação de ideias. Através de
procedimentos conscientes de construção de linguagem visual é que
os designers de iluminação podem contribuir para que a função dos
espaços seja preservada e afirmada.
Harmonia, desarmonia, sobreposição, clareza, simplicidade,
profusão, coerência, incoerência, redundância, ambiguidade,
fragmentação, distorção, diluição, sutileza, sequencialidade,
ruído, etc. São técnicas da linguagem visual extremamente
funcionais quando utilizadas de maneira adequada. Quando queremos
diluir os objetos no espaço, por princípio temos que abrandar os
aspectos contrastantes e continuados. Podemos realizar isso através
dos sistemas de iluminação, criando a sensação de aconchego, de
realidade onírica ou ilusória e outras muitas sensações ou
sentimentos. Diferentemente da clareza, que proporciona um contato
mais direto com os elementos de um espaço, aproximando o observador
da realidade íntima do que está sendo observado.
Cabe ainda salientar que a importância do conhecimento das técnicas
de criação de linguagens visuais não se resume apenas em criar
sensações emocionais ou direcionamento psicológico do observador.
Além do fato de que através das técnicas é possível mais
facilmente encontrar soluções estéticas, ainda podemos contar com
recursos visuais para aumento da inteligibilidade do espaço e de
seus elementos, aumento da segurança desses espaços, conforto, etc.
Cabe ainda ressaltar que quando projetamos ainda estamos presos a
sistemas de estruturação biológicos. Conhecê-los é não apenas
importante para atingirmos o entendimento do outro, mas também o
nosso próprio entendimento quanto às soluções escolhidas num
projeto. Ainda citando Dondis:
“(...) existe uma correspondência entre a ordem que o
projetista escolhe para distribuir os elementos de sua “composição”
e os padrões de organização desenvolvidos pelo sistema nervoso.
Estas organizações, originárias da estrutura cerebral são, pois,
espontâneas, não arbitrárias, independentemente de nossa vontade e
de qualquer aprendizado”.9
Para concluir, é preciso esclarecer que o universo da linguagem
visual é muito abrangente e, além dos princípios básicos contidos
na teoria Gestalt, temos ainda que somar os aspectos culturais do
observador. Culturas diversas evoluindo em diferentes ambientes
desenvolvem, por sua vez, distintos processos de percepção e
leitura dos elementos visuais.
Em algumas culturas tribais de determinados recantos africanos,
existem povos que não possuem sequer palavras para diferenciar as
cores azul e verde. Isso se dá porque eles não conseguem perceber
essas cores como nós, ocidentais. Já entre os esquimós, é comum
verificar que uma pessoa daquela cultura e local pode distinguir
facilmente, numa planície gelada, mais de 10 tons de branco. Isso
inclusive é extremamente importante para sua sobrevivência,
enquanto se nós nos deparássemos com tal cenário, talvez não
conseguíssemos distinguir nenhuma diferença cromática na vastidão
ártica.
Portanto, criar comunicação visual é também pesquisar e criar
cultura. As diferentes áreas do conhecimento, as quais procuramos
adentrar, de alguma forma contribuem para uma percepção mais
profunda da realidade. Mais holística, abrangente. O designer de
iluminação, como pensam alguns, não é atividade cuja
característica é a especialização mecânica, mas acima de tudo,
como a arte, um conjunto de conhecimentos que visam determinados
fins.
Quanto mais interação das partes entre si com o todo de um projeto,
mais ele caminha para a harmonia. A Gestalt também afirma que essa
busca pela beleza dos componentes estruturais de qualquer forma é
também produto de evolução biológica. Estamos condenados a buscar
sempre o mais belo. Nossos sentidos e órgãos são estruturados para
isso. Literalmente, somos a própria busca da harmonia em pessoa.
1Teoria
da Relatividade é
a denominação dada ao conjunto de duas teorias científicas: a
Relatividade Restrita (ou Especial) e a Relatividade
Geral.
A Relatividade Especial é uma
teoria publicada em 1905 por
Albert Einstein, concluindo estudos precedentes do matemático
francês Henri Poincaré e do físico neerlandês Hendrik
Lorentz, entre outros. Ela substitui os conceitos independentes
de espaço e tempo da Teoria de Newton pela ideia de espaço-tempo
como uma entidade geométrica unificada. O espaço-tempo na
relatividade especial consiste de uma variedade diferenciável de 4
dimensões: três espaciais e uma temporal (a quarta
dimensão), munida de uma métrica pseudorriemaniana, o que
permite que noções de geometria possam ser utilizadas. É nessa
teoria, também, que surge a ideia de velocidade da luz invariante.
O termo especial
é usado porque
ela é um caso particular do princípio da relatividade em que
efeitos da gravidade são ignorados. Dez anos após a publicação
da teoria especial, Einstein publicou a Teoria
Geral da Relatividade, que é a versão mais ampla da teoria, em
que os efeitos da gravitação são integrados, surgindo a noção
de espaço-tempo curvo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_relatividade.
Wikipédia em 15/04/2011.
2
Grande Colisor de Hádrons
(português
brasileiro) ou Grande
Colisionador de Hadrões (português
europeu) (em inglês:
Large Hadron Collider -
LHC)
do CERN,
é o maior acelerador de partículas e o de maior energia existente
do mundo. Seu principal objetivo é obter dados sobre colisões de
feixes de partículas, tanto de prótons a uma energia de 7 TeV
(1,12 microjoules) por partícula, ou núcleos de chumbo a energia
de 574 TeV (92,0 microjoules) por núcleo. O laboratório
localiza-se em um túnel de 27 km de circunferência,
bem como a 175 metros abaixo do nível do solo na fronteira
franco-suíça, próximo a Genebra,
Suíça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/LHC.
Wikipedia em 15/04/2011.
4
Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica da
psicologia
desenvolvido por
Sigmund
Freud, médico
neurologista vienense nascido em 1856 que se propõe à compreensão
e análise do homem, compreendido enquanto sujeito do inconsciente
e abrange três
áreas: 1) um método de investigação da mente
e seu
funcionamento; 2) um sistema teórico
sobre a vivência e
o comportamento humano; 3)um método de tratamento psicoterapêutico.
Essencialmente é, assim, uma teoria da personalidade
e um procedimento
de psicoterapia;
a psicanálise, contudo, influenciou muitas outras correntes de
pensamento e disciplinas das diversas ciências
humanas,
gerando uma base teórica para uma forma de compreensão da ética,
da moralidade e
da cultura
humana.
5
Sigismund Schlomo Freud (6
de maio de 1856—23
de setembro de
1939),
mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico
neurologista austríaco e
judeu,
fundador da psicanálise.
Freud nasceu em
Freiberg, na época pertencente ao Império
Austríaco;
atualmente a região é denominada Příbor,
na República
Tcheca.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Freud.
Wikipédia em 17/04/2011.
6FILHO,
João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da
Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009. p. 18.
7FILHO,
João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da
Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009 p. 20
8
Células fotorreceptoras responsáveis pela transformação da luz
que chega à nossa retina em impulsos cerebrais as quais determinam
a nossa visão e percepção das cores. Nota do autor.
9DONDIS,
Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes,
2003. P. 58.
BIBLIOGRAFIA
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FILHO, João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009.
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Wikipédia a Enciclopédia Eletrônica. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal.
Artigo originalmente publicado na Revista Lume Arquitetura - edição n° 50
É quase consenso absoluto entre os cientistas, intelectuais,
filósofos e artistas da atualidade, a inegável contribuição da
teoria relativística1
de Albert Einstein, cujas premissas, alargaram a visão de
praticamente todas as áreas do conhecimento. Porém, muitos dos
conceitos da teoria foram e são utilizados para pregar uma espécie
de relativismo cego, cujo fundamentalismo infiltra-se
inescrupulosamente em todos os ramos do saber.
A ideia aceita por alguns de que o relativismo seja a chave última
para a explicação de processos sofisticados externos e internos ao
homem, não tem características religiosas, mas acabou se tornando
uma crença equivocada, como tantas outras, na infalibilidade de algo
que sempre está evoluindo, como a ciência. Mais ainda, trata-se de
uma falha no reconhecimento de que algumas das premissas contidas
tanto na teoria restrita como na teoria geral, não podem
simplesmente ser aplicadas a determinadas situações e processos,
alguns desses, inclusive, gerados por determinados princípios
imutáveis dentro de seus respectivos universos físicos e
conceptuais, ou seja, nem tudo é relativo em nosso universo exterior
e interior.
Alguns desses princípios tratam, por exemplo, das limitações do
sistema fisiológico humano, tais como os da audição e visão, os
quais conseguem captar somente algumas faixas eletromagnéticas, nos
proporcionando apenas contatos com algumas das realidades vibratórias
que nos cercam. Outras não nos são acessíveis, como é o caso das
micro-ondas, dos raios X, de sons que estão acima e abaixo da escala
dos decibéis influenciadores do nosso sistema auditivo, e por aí
vai.
De certa forma estamos fisiologicamente condenados e aprisionados
dentro de determinados limites do ver, sentir, cheirar, ouvir,
degustar, tocar, etc, condicionados biologicamente a contatar apenas
uma restrita faixa da realidade total, não nos sendo permitido, pelo
menos para a maioria de nós, vivenciar sensivelmente essas outras
dimensões da existência universal.
Seria um absurdo, portanto, querer transferir para esses processos o
mesmo sistema relativístico que explica, por exemplo, a diferença
da massa e do fator tempo, observados durante uma experiência de
bombardeios de partículas no interior de um acelerador como o LHC2,
cuja velocidade pode chegar próximo à da luz. Nesse caso, a teoria
explicaria e até mesmo poderia descobrir antecipadamente quais
seriam os eventos futuros. Afirmar que eu ou você não enxergamos as
cores de determinada frequência apenas por que não estamos
dispostos a enxergá-las, seria um absurdo teórico. Não existe
relatividade nisso; a relatividade aí se apresenta apenas enquanto
“modo” de ver, ouvir, enfim, sentir, e não no fato biológico,
da estrutura natural à disposição.
Algumas coisas não são relativas: são partes de processos e de
leis naturais rígidas. Talvez, daqui a não sei quanto tempo, ao
atingirmos outro estado de arte de nossa ciência, poderemos mudar a
nossa cadeia genética a bel prazer, com o intuito de enxergar além
e aquém da escala vibratória normal, mas isso é outra história.
Mesmo assim, isso não seria algo natural, mas artificial.
Essa pequena introdução ao problema do relativismo e de suas
abrangentes implicações e limites, visa apenas demonstrar que
precisamos estar cientes de que enxergamos, ouvimos, ou seja,
sentimos o mundo à nossa volta com “equipamentos” biológicos
restritivos. Que , em função do modo como foram organizados
biologicamente no decorrer das eras, hoje nos proporcionam captar o
pulsar universal de determinadas formas, e não de outras. Mas não é
só isso!
A característica fisiológica do cérebro humano com seus
aproximadamente 100 bilhões de neurônios, suas ligações
sinápticas e suas fibras protoplasmáticas, estão sistematicamente
ordenados de tal forma que é impossível não atentar para o fato de
que a própria estrutura formal, o próprio modelo arquitetônico do
sistema nervoso seja responsável não somente pela “maneira”
como se dão as trocas de comunicação e, portanto, da fenomenologia
das atividades fisiológicas internas, mas também pelos padrões que
esses comportamentos infligem à nossa maneira de organizar e
reciclar o que captamos do mundo externo. Ou seja, nosso organismo
tende a seguir certos padrões internos de comportamento pelo fato de
ter evoluído através de processos que acabaram impulsionando nosso
aparelho biológico para determinado caminho evolutivo. Seguindo essa
linha de pensamento, Dondis afirma:
“...captamos a informação visual de muitas maneiras. As forças
perceptivas e cinestésicas da natureza fisiológica são vitais para
o processo visual. Nossa maneira de permanecer em pé, de nos
movermos, assim como de reagir à luz, à escuridão ou aos
movimentos bruscos são fatores importantes para o nosso modo de
perceber e interpretar mensagens visuais. Todas essas respostas são
naturais e atuam sem esforços; não temos de estudá-las e nem
aprender a dá-las”.3
Não há dúvida de que a psicanálise4
de Sigmund Freud5
seja talvez uma das obras mais geniais de todos os tempos, mas, como
qualquer ramo do conhecimento, não poderia de uma só vez trazer à
tona toda a verdade de algo tão complexo como a mente humana. Muitas
outras teorias vieram em seguida refutar ou completar alguns de seus
princípios, mas nunca se havia adentrado tão profundamente na
fenomenologia da percepção humana como fizeram os precursores da
Gestalt.
A escola de psicologia experimental Gestalt, também conhecida por
Psicologia da Forma, surgiu na Europa em fins do século XIX.
Segundo João Gomes Filho,
“Considera-se que Christian von Ehrenfels, filósofo austríaco
do século XIX, foi o precursor da psicologia Gestalt. Mais tarde,
por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio de três
nomes principais: Max Wertheimer (1880/1943), Wolfgang Kohler
(1887/1967) e Kurt Kofka (1886/1941), da universidade de Frankfurt.
O movimento gestaltista atuou principalmente no campo da teoria da
forma, com contribuição relevante aos estudos da percepção,
linguagem, inteligência, aprendizagem, memória, motivação,
conduta exploratória e dinâmica de grupos sociais. Por meio de
numerosos estudos e pesquisas experimentais, os gestaltistas
formularam suas teorias acerca dos campos mencionados. A teoria da
Gestalt, extraída de uma rigorosa experimentação, vai sugerir uma
resposta ao porquê de muitas formas agradarem mais e outras não.
Essa maneira de abordar o assunto vem opor-se ao subjetivismo, pois a
psicologia da forma se apoia na fisiologia do sistema nervoso, quando
procura explicar a relação sujeito-objeto no campo da percepção”.
6
A Gestalt ainda identificou que os processos mentais de associação
não acontecem pontualmente, isoladamente, mas a excitação cerebral
é abrangente; nada será desencadeado posteriormente ao que foi
sentido. Quando observamos um objeto qualquer, o nosso órgão da
visão trabalha na captação do todo. Não vemos coisas isoladas.
Por exemplo, quando olhamos para uma cadeira, não identificamos
primeiramente o acento, depois as pernas, depois o encosto e os
braços. Nossa percepção visual é globalizadora. Isso nos permite
saber que o objeto que observamos, seja ele da madeira, metal ou
plástico; esteja ele de pé, de costas ou de cabeça para cima, é
uma cadeira.
Ao identificarmos as coisas sem separar as partes que a compõem,
estamos automaticamente atribuindo valores diferentes quanto ao todo
e os seus componentes em separado. Sendo assim, podemos então
afirmar que o todo sempre será mais do que apenas o conjunto de suas
partes. Seu valor enquanto unidade é totalmente diferente quando
visto e percebido separadamente Isso também explica porque somos
enganados por aquilo que denominamos de “ilusão de ótica”.
Algumas imagens enganam o nosso olhar, exatamente porque o nosso
sistema visual e perceptivo sempre fará com que, para nós, o todo
seja mais “importante” do que os seus componentes. O todo se
transformará em algo único tendo apenas uma relação formal
estrutural com suas partes componentes, mas não conceptual. Na
figura 01, as linhas horizontais divisórias são paralelas entre si,
e os paralelogramos pretos e brancos possuem todos a mesma dimensão
e tamanho.
Ao observarmos a imagem, somos levados a ver figuras linhas não
paralelas se aproximando ou se afastando nas extremidades opostas e
paralelogramos assimétricos e de diferentes tamanhos.
Figura 01
Mas não é apenas enquanto percepção da forma que a teoria Gestal
comprova com nitidez suas assertivas. Em relação ainda aos
processos de percepção visual, somos levados por essa escola a
entender que fenômenos - como o fator de fechamento - estão
estritamente ligados à estrutura do sistema ótico e seus
componentes, assim como pelo que denominam “forças internas de
organização”. O fator de fechamento é aquele que nos
possibilita perceber perfeitamente as formas, mesmo complexas,
somente ligando pontos ou linhas tracejadas como a mostrada na figura
02.
Figura 02
A teoria Gestalt analisa também as forças que regem a percepção
do objeto visual. Essas forças foram divididas pelos gestaltistas em
“internas” e “externas”. As forças externas são fruto da
estimulação da retina pela luz. Descobriram então que a percepção
é influenciada diretamente pelas condições de iluminação. Já as
forças internas são aquelas responsáveis pela organização que
determina como estruturamos o que vemos, e isso se explicaria pela
própria natureza estrutural do cérebro físico.
A teoria Gestalt ainda, através do conjunto dos resultados de
inúmeros experimentos e experiências, acabou por revelar alguns
princípios internos de organização. O que são eles? São algumas
constantes das forças internas, ou seja, constantes de ordenação e
estruturação pelos quais se baseiam os processos da percepção. Os
gestaltistas também as denominam de padrões, fatores ou leis de
organização da forma perceptual. Esses princípios explicariam por
que vemos da maneira como vemos. Os quatro princípios básicos são:
o da tendência à estruturação, o da segregação figura-fundo, o
da pragnância das formas e o da constância perceptiva.
O princípio de tendência à estruturação é aquele que afirma que
sempre buscamos agrupar elementos próximos ou de características
semelhantes. O da segregação figura-fundo determina que não
podemos ver objetos se não pudermos separá-los da figura de fundo.
Que sem o contraste eles não são percebidos. O princípio da
pragnância afirma que percebemos mais facilmente formas mais
simétricas, regulares, em equilíbrio, e também as formas simples.
Além desses princípios, poderíamos ainda somar mais duas
constantes denominadas “constantes primárias”, que são as de
unificação e segregação, sendo que
“As forças de unificação agem em virtude da igualdade da
estimulação. As forças de segregação agem em virtude da
desigualdade de estimulação”. (FILHO 2009)7
Quando pensamos em unidades, temos que pensar obrigatoriamente em
termos de contraste. Uma unidade só é possível ser reconhecida
quando separada do plano de fundo ou de conjuntos de unidades.
Percebemos, portanto, através das relações entre os diferentes
elementos contidos no nosso campo visual, que quando algum elemento
estabelecido num determinado conjunto de formas é mudado, toda a
percepção desse conjunto é alterada. Tanto a percepção da forma
quanto da cor segue essa lei. Claro que as resultantes serão
diferentes para cada caso específico. Na figura 03, podemos observar
claramente que tanto as relações formais são afetadas quanto a
percepção da cor do elemento contrastante. O quadrado cinza central
parecerá mais escuro sobre um fundo claro, e mais claro num fundo
escuro, embora sejam os dois da mesma cor.
Figura 03
A percepção da cor também foi incansavelmente experimentada e
analisada pelos gestaltistas. Fenômenos como o da constância das
cores e o da cor negativa são alguns exemplos. Através dessa última
comprovou-se indubitavelmente que a estrutura biológica humana busca
sempre o equilíbrio das forças, no caso, o equilíbrio de
funcionamento dos fotorreceptores. O fenômeno da cor negativa se dá
quando determinados fotorreceptores de uma cor são fatigados durante
um determinado período e acabam perdendo a habilidade de enviar
informações corretas ao cérebro. Após fatigarmos um conjunto de
nossos fotorreceptores com determinada cor, ao olharmos uma
superfície branca, notaremos o aparecimento de sua cor complementar.
Após o descanso desses fotorreceptores, a sensibilidade do sistema
volta ao normal. O leitor poderá observar em si mesmo esse efeito
com a seguinte experiência:
Olhar fixamente para o centro da figura 04 durante no mínimo 45
segundos. Após isso, olhar imediatamente para uma folha de papel em
branco. O que se verá, é a mesma imagem, porém, com as cores
complementares das que foram observadas anteriormente. Essa
experiência prova não somente a teoria Gestalt sobre a busca de
autorregulação do organismo, como também que os cones8,
mais abrangentemente nossos órgãos da visão, evoluíram a partir
da incidência da luz. Nosso cérebro foi capaz de evoluir seguindo a
orientação do sistema aditivo de cores.
Figura 04
O termo Gestalt, cuja tradução pode ser figura, objeto ou forma é
bastante amplo e contém muitos significados. O mais importante é o
que remete ao “todo” como resultado da integração de seus
componentes e não simplesmente como resultado da soma desses. O
termo também vulgarizou-se como “boa forma” dentro das
atividades do design.
A Gestalt também afirma que o os elementos que vemos são
organizados naturalmente por nosso sistema perceptual de forma a
fazer sentido e não serem percebidos apenas, como outras linhas de
psicologia afirmavam: através de associações.
Ao nos depararmos com os fundamentos da teoria Gestalt,
aproximamo-nos mais e mais do entendimento de como podemos realizar a
comunicação visual em nossos projetos, de forma a seguirmos o
caminho natural da percepção. Todo artista e projetista procura
executar seu trabalho para ser entendido e compreendido, porém,
ocorre muitas vezes que o universo formal da sua obra não atinge a
percepção do observador de maneira efetiva, pois não foi levado em
consideração exatamente o modo como o observador “lê”
visualmente a obra.
Os designers, em geral, incluindo os de iluminação, precisam
compreender, por exemplo, que enfileirar luminárias e focos de
luzes, que são na verdade elementos visuais, não é apenas
atividade estética, mas de comunicação e linguagem. Dentro de
determinado universo formal, isso “significa” alguma coisa que
necessariamente não é algo apenas sensível. Por que muitos
designers colocam aquelas fileiras de nesgas de luzes verticais nas
paredes dos espaços arquitetônicos? Porque é receita ou é
linguagem? Se for linguagem, o que podemos representar visualmente no
espaço através desse conceito formal? Será que estamos dizendo que
ali existe uma continuidade no espaço? Poderíamos, por exemplo,
usar recursos como esses para, usando as propriedades da luz,
“escrever” mensagens visuais?
Eu acredito que isso seja possível e que o designer deve compor seus
projetos não apenas como arte, como linguagem estética, mas
procurar construir sistemas de comunicação de ideias. Através de
procedimentos conscientes de construção de linguagem visual é que
os designers de iluminação podem contribuir para que a função dos
espaços seja preservada e afirmada.
Harmonia, desarmonia, sobreposição, clareza, simplicidade,
profusão, coerência, incoerência, redundância, ambiguidade,
fragmentação, distorção, diluição, sutileza, sequencialidade,
ruído, etc. São técnicas da linguagem visual extremamente
funcionais quando utilizadas de maneira adequada. Quando queremos
diluir os objetos no espaço, por princípio temos que abrandar os
aspectos contrastantes e continuados. Podemos realizar isso através
dos sistemas de iluminação, criando a sensação de aconchego, de
realidade onírica ou ilusória e outras muitas sensações ou
sentimentos. Diferentemente da clareza, que proporciona um contato
mais direto com os elementos de um espaço, aproximando o observador
da realidade íntima do que está sendo observado.
Cabe ainda salientar que a importância do conhecimento das técnicas
de criação de linguagens visuais não se resume apenas em criar
sensações emocionais ou direcionamento psicológico do observador.
Além do fato de que através das técnicas é possível mais
facilmente encontrar soluções estéticas, ainda podemos contar com
recursos visuais para aumento da inteligibilidade do espaço e de
seus elementos, aumento da segurança desses espaços, conforto, etc.
Cabe ainda ressaltar que quando projetamos ainda estamos presos a
sistemas de estruturação biológicos. Conhecê-los é não apenas
importante para atingirmos o entendimento do outro, mas também o
nosso próprio entendimento quanto às soluções escolhidas num
projeto. Ainda citando Dondis:
“(...) existe uma correspondência entre a ordem que o
projetista escolhe para distribuir os elementos de sua “composição”
e os padrões de organização desenvolvidos pelo sistema nervoso.
Estas organizações, originárias da estrutura cerebral são, pois,
espontâneas, não arbitrárias, independentemente de nossa vontade e
de qualquer aprendizado”.9
Para concluir, é preciso esclarecer que o universo da linguagem
visual é muito abrangente e, além dos princípios básicos contidos
na teoria Gestalt, temos ainda que somar os aspectos culturais do
observador. Culturas diversas evoluindo em diferentes ambientes
desenvolvem, por sua vez, distintos processos de percepção e
leitura dos elementos visuais.
Em algumas culturas tribais de determinados recantos africanos,
existem povos que não possuem sequer palavras para diferenciar as
cores azul e verde. Isso se dá porque eles não conseguem perceber
essas cores como nós, ocidentais. Já entre os esquimós, é comum
verificar que uma pessoa daquela cultura e local pode distinguir
facilmente, numa planície gelada, mais de 10 tons de branco. Isso
inclusive é extremamente importante para sua sobrevivência,
enquanto se nós nos deparássemos com tal cenário, talvez não
conseguíssemos distinguir nenhuma diferença cromática na vastidão
ártica.
Portanto, criar comunicação visual é também pesquisar e criar
cultura. As diferentes áreas do conhecimento, as quais procuramos
adentrar, de alguma forma contribuem para uma percepção mais
profunda da realidade. Mais holística, abrangente. O designer de
iluminação, como pensam alguns, não é atividade cuja
característica é a especialização mecânica, mas acima de tudo,
como a arte, um conjunto de conhecimentos que visam determinados
fins.
Quanto mais interação das partes entre si com o todo de um projeto,
mais ele caminha para a harmonia. A Gestalt também afirma que essa
busca pela beleza dos componentes estruturais de qualquer forma é
também produto de evolução biológica. Estamos condenados a buscar
sempre o mais belo. Nossos sentidos e órgãos são estruturados para
isso. Literalmente, somos a própria busca da harmonia em pessoa.
1Teoria
da Relatividade é
a denominação dada ao conjunto de duas teorias científicas: a
Relatividade Restrita (ou Especial) e a Relatividade
Geral.
A Relatividade Especial é uma
teoria publicada em 1905 por
Albert Einstein, concluindo estudos precedentes do matemático
francês Henri Poincaré e do físico neerlandês Hendrik
Lorentz, entre outros. Ela substitui os conceitos independentes
de espaço e tempo da Teoria de Newton pela ideia de espaço-tempo
como uma entidade geométrica unificada. O espaço-tempo na
relatividade especial consiste de uma variedade diferenciável de 4
dimensões: três espaciais e uma temporal (a quarta
dimensão), munida de uma métrica pseudorriemaniana, o que
permite que noções de geometria possam ser utilizadas. É nessa
teoria, também, que surge a ideia de velocidade da luz invariante.
O termo especial
é usado porque
ela é um caso particular do princípio da relatividade em que
efeitos da gravidade são ignorados. Dez anos após a publicação
da teoria especial, Einstein publicou a Teoria
Geral da Relatividade, que é a versão mais ampla da teoria, em
que os efeitos da gravitação são integrados, surgindo a noção
de espaço-tempo curvo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_relatividade.
Wikipédia em 15/04/2011.
2
Grande Colisor de Hádrons
(português
brasileiro) ou Grande
Colisionador de Hadrões (português
europeu) (em inglês:
Large Hadron Collider -
LHC)
do CERN,
é o maior acelerador de partículas e o de maior energia existente
do mundo. Seu principal objetivo é obter dados sobre colisões de
feixes de partículas, tanto de prótons a uma energia de 7 TeV
(1,12 microjoules) por partícula, ou núcleos de chumbo a energia
de 574 TeV (92,0 microjoules) por núcleo. O laboratório
localiza-se em um túnel de 27 km de circunferência,
bem como a 175 metros abaixo do nível do solo na fronteira
franco-suíça, próximo a Genebra,
Suíça.
http://pt.wikipedia.org/wiki/LHC.
Wikipedia em 15/04/2011.
4
Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica da
psicologia
desenvolvido por
Sigmund
Freud, médico
neurologista vienense nascido em 1856 que se propõe à compreensão
e análise do homem, compreendido enquanto sujeito do inconsciente
e abrange três
áreas: 1) um método de investigação da mente
e seu
funcionamento; 2) um sistema teórico
sobre a vivência e
o comportamento humano; 3)um método de tratamento psicoterapêutico.
Essencialmente é, assim, uma teoria da personalidade
e um procedimento
de psicoterapia;
a psicanálise, contudo, influenciou muitas outras correntes de
pensamento e disciplinas das diversas ciências
humanas,
gerando uma base teórica para uma forma de compreensão da ética,
da moralidade e
da cultura
humana.
5
Sigismund Schlomo Freud (6
de maio de 1856—23
de setembro de
1939),
mais conhecido como Sigmund Freud, foi um médico
neurologista austríaco e
judeu,
fundador da psicanálise.
Freud nasceu em
Freiberg, na época pertencente ao Império
Austríaco;
atualmente a região é denominada Příbor,
na República
Tcheca.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Freud.
Wikipédia em 17/04/2011.
6FILHO,
João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da
Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009. p. 18.
7FILHO,
João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da
Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009 p. 20
8
Células fotorreceptoras responsáveis pela transformação da luz
que chega à nossa retina em impulsos cerebrais as quais determinam
a nossa visão e percepção das cores. Nota do autor.
9DONDIS,
Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes,
2003. P. 58.
BIBLIOGRAFIA
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FILHO, João Gomes. Gestalt do Objeto – Sistema de leitura Visual da Forma. São Paulo: Editora Escrituras, 2009.
MUNARI, Bruno. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Wikipédia a Enciclopédia Eletrônica. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal.
Artigo originalmente publicado na Revista Lume Arquitetura - edição n° 50
2 comentários:
Olá Valmir, tudo bem?
Tenho acompanhado alguns dos textos publicados e gostaria de parabenizá-lo pelo seu trabalho. Recentemente fui aprovado num concurso para trabalhar como supervisor de palco em um teatro. Antes de assumir o cargo gostaria de fazer um curso na área de iluminação cênica e audio para desempenhar melhor esta tarefa. Por acaso vc poderia me indicar alguns tanto Campinas quanto em São Paulo (capital)? Agradeço pela atenção. Obrigado.
Prezado Talles,
Cursos de iluminação cênica geralmente são muito escassos.
Sempre que recebo informações sobre algum tipo de curso, palestra, workshop, etc. repasso essas informações na lista de dicas de iluminação. Você pode se inscrever na lista acessando o link para inscrição no site na Unicamp, endereço: https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/dicasdeiluminacao-l
Abraços, e obrigado!
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